RECEITA LITÁNICA DO BEIJO OU OS ENCANTOS DA COMPLETIVA E DA RELATIVA


          Escrevo-te beijos em mim, de mim p'ra ti escrevo que te escrevo beijos que te escrevo
          Como boca a boca com o desejo do beijo ou esse voo imperceptível que apenas me represento
          Escrevo-te beijos em mim, de mim p'ra ti escrevo que te escrevo beijos que te escrevo
          Como o gemido mescla-se à mancha púrpura recolhida, enterra-se na carne e pouco a pouco desfale-
          ce  ao dedo de arnica.
          Escrevo-te beijos em mim, de mim p'ra ti escrevo que te escrevo beijos que te escrevo
          Como o espasmo que me prende e desprende, desliza e resiste, frágil e forte licor do meu desejo branco
          Escrevo-te beijos em mim, de mim p'ra ti escrevo que te escrevo beijos que te escrevo
          Como esse algo que derrete no meu ventre quando te escrevo beijos
          E és o pesa-riso do melro
          quando adivinha a cor da manhã no raio...raio de luz que penetra a porta e uma mão risca
          beijos no ar, outra remexe, escava e engana o ventre no rio dos lençóis... ainda quentes?
          E és pesa-sol da manhã curta
          Peso o espaço espelho do meu espaço espesso e escrevo que te escrevo beijos
          Ouço o B do beijo dos teus lábios
          Espelho o espaço, passo a passo, rápido, abro a porta, abro a mão do meu desejo espalmado emboca-
          do com  o desejo
          E escrevo que escrevo beijos
          Espalho a substância do beijo
          Alongo o visco do espaço do raio da porta da cor do dia que me represento e escrevo,
          escrevo que te escrevo beijos
          Beijos sem espaço para beijar
          Parece-se contigo e beijo-o sem nunca alcançar o fim do beijo
          Porque és tu...
          Por que és tu feito da substância do beijo que era meu e me despertence tão naturalmente, mas que não -               consigo parar de beijar?
          (Ana da Palma, Gazeta das Caldas)

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